domingo, 16 de outubro de 2011

Entrevista de Pedro Porfírio


O Cearense, Pedro Porfírio Sampaio, chegou ao Rio de Janeiro aos 16 anos, para ocupar o cargo de secretário na União Brasileira dos Estudantes (UBES), aos 17 anos já era repórter contratado pelo jornal Última Hora e aos 18 anos já era editor da Rádio Havana, em Cuba, tendo participação ativa na invasão da baia dos porcos (abril de 1961).
Em 1963, Pedro Porfírio, volta ao Brasil, para dirigir o semanário das Ligas Camponesas, do líder Francisco Julião. Passando pelo jornal, CORREIO DA MANHÃ e TV TUPI. Com a experiência adquirida aos 26 anos, foi Chefiar a Redação da TRIBUNA DA IMPRENSA, onde foi preso e torturado pela ditadura militar.
Com a edição o AI-5, permaneceu encarcerado cerca de um ano e meio.
Em liberdade, enfrentou dificuldades devido à discriminação, pois, era um militante importante no contexto da luta pela anistia e liberdade de pensamento no Brasil.
Não conseguindo trabalho como jornalista, optou por escrever peças teatrais, se tornando um dos principais teatrólogos do país.
Na década de 80, a convite do ex-governador, Leonel Brizola, Pedro Porfírio, filia-se ao PDT, participando da vitória da esquerda nas eleições gerais de 1982.
Assumindo a Coordenadoria das Regiões Administrativas da Região Norte.
Em 1989, o então prefeito Marcello Alencar, convida Pedro Porfírio, para seu maior desafio desenvolver e organizar as comunidades carentes da Cidade do Rio de Janeiro, através da secretaria de Desenvolvimento Social,
Sua atuação, até hoje é reconhecida por todos como uma das melhores atuações de secretários desta pasta.
Foi eleito vereador em 1992, exercendo mandato até o ano de 2007.

Hoje, o, jornalista e escritor Pedro Porfírio, escreve em blogs e tem seu próprio site.


APRESENTAÇÃO

A novela Amor e Revolução, do SBT, estreou no dia 4 de abril, e mostra pela primeira vez o período da ditadura militar, incluindo os porões da tortura, OESTE EM FOCO, entrevista o militante torturado nos quartéis Pedro Porfírio Sampaio, atualmente escritor e jornalista, que foi encarcerado e torturado barbaramente pelos militares.
PERGUNTAS

1.Como um dos atores principais do golpe de 64, como o senhor esta vendo a nova novela do SBT?
É uma surpreendente contribuição ao regaste da verdade histórica. São tão importantes e elucidativos os fatos apresentados nessa novela que muita coisa eu mesmo não tinha idéia, embora tivesse vivido pessoalmente a violência da tortura, da prisão e de todo tipo de arbitrariedade.

2.Como o senhor vê o fato dos militares quererem censurar a Novela?
Os grupos que tentaram impedir a exibição da novela não representam hoje as nossas Forças Armadas, que não têm responsabilidade nenhuma pelo que aconteceu na ditadura. Na época, quem produzia aqueles massacres, quem se deixava dominar pela sede de matança era uma minoria que mantinha a tropa sob terror e apavorada com a idéia de uma suposta ameaça comunista. Os militares de hoje ainda vão ter a mesma postura dos argentinos, que tiveram a dignidade de pedir desculpas pelas violências de seus antepassados e ajudaram a condenar os assassinos que abusaram do uniforme.

3.O senhor acha que mesmo sendo imparcial, Amor e Revolução, não irá demonizar as Forças Armadas?
Não sei nem se podemos falar em imparcialidade, pois o relato da história acaba por mostrar o caráter criminoso do regime ditatorial. Mas, como disse, o profissionalismo parece preponderar no conjunto das nossas Forças Armadas. Aos militares legalistas, a novela fará muito bem, pois inibirá novas tentativas golpistas. O cidadão que serve às Forças Armadas é um homem do povo, com seus problemas e suas esperanças. Aquele passado foi produto de uma manipulação externa. Antes de 1964, as Forças Armadas brasileiras eram legalistas, tendo no marechal Henrique Lott o seu maior ícone. Foi ele quem garantiu a posse do presidente JK, naquele 11 de novembro de 1955.

4.O senhor acha que a novela, trará a tona os crimes cometidos na época do golpe?
Já está mostrando mais do que eu próprio esperava. As cenas são tão verdadeiras que eu mesmo tenho dificuldade em ver a novela, que me fazem rolar muitas lágrimas e me deixam deprimido. Afinal, eu escapei com vida. E aqueles que morreram na tortura? O que temos feito para que o sacrifício não seja em vão?

5.Os depoimentos verdadeiros de ex-presos políticos que a novela apresenta ao final de cada capítulo são estarrecedores, o senhor acha que isso vai atarpalhar o sucesso da novela?
Ao contrário, quanto mais depoimento, mais se legitima o conteúdo da ficção. Foi uma excelente idéia terminar cada capítulo com um depoimento.

6.O senhor, viveu um amor no período do golpe, como o militar José Guerra (Claudio Lins) e guerrilheira Maria Paixão(Graziela Schmitt)?
Não. Mas vi muitas situações em que filhos de militares optaram pela resistência. Na minha própria família, isso aconteceu. Tinha um primo militar, o general Moisés Porfírio Sampaio, da V Região Militar (servia em Curitiba) que aderiu ao golpe para “impedir uma ditadura comunista”. Logo em seguir, prenderam seu filho, do Sindicato dos Bancários do Paraná e o submeteram a sessões violentas de tortura. Ao constatar os abusos, o general Moisés pediu passagem para a reserva e preferiu e nunca mais quis saber da vida militar, para a qual se preparara sempre como um dos melhores alunos da turma.

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